CAPÍTULO I
O amor é uma bala perdida. Viaja sem rumo e sem destino. Explode no coração do primeiro incauto que cruza seu caminho. Não escolhe idade, nem sexo. Não tem piedade de ninguém...
No caso de Cornélio, o
amor chegou bem cedo. Decidido a criar raízes. Pegou o rapaz, na plenitude de
seus 15 anos...
Com uma saúde de
Biotônico Fontoura, de repente, sem qualquer motivo aparente, o mancebo começou
a deixar seus pais preocupados. Abandonou os livros. Deixou de ouvir rádio. Não
ficou nem um pouquinho curioso para ver as primeiras imagens geradas pela TV
Morena. Parou de bater bola com seus amigos. Vivia suspirando pelos cantos. Seu
pai, Oscar, cochichou para sua mãe: “Maria, aí tem dedo de mulher!”. Ledo
engano...
O responsável por
aqueles suspiros não era ainda uma mulher. Era só uma menina. Na verdade, quase
um anjo. Só 13 anos. Criança que, de noite, ainda passava da sua cama para a de
seus pais. Que dormia abraçada com um bichinho de pelúcia e passava as tardes
conversando com sua boneca Emília...
Teresinha!
Que menina! Estudante
do Colégio das Irmãs. Carinha de ingênua. Fingia não saber de todo o potencial
que seu corpo começava a revelar...
Displicente -
propositadamente ou não - parecia não notar o generoso botão (sempre
desabotoado) de sua blusa que, dependendo da perspectiva, premiava o observador
com uma visão maliciosamente pecadora. A saia colegial, nunca era capaz de
cobrir todos os encantos que Deus generosamente lhe confiara. Os meninos, pelas
ruas do Amambai, viviam batendo cabeça e tropeçando, tentando enxergar algo
mais ao longo daquele delicioso, juvenil e ouriçado par de coxas...
Teresinha, a bala
perdida que feriu o coração de Cornélio...
Aluno do General
Malan, morador dos arredores da igreja do Perpétuo Socorro, aos domingos era o
primeiro a chegar para a missa das sete. Não para orar. Para adorar. Ficava
encarando fixamente, sem dar um suspiro, sem mexer um músculo, vigiando todos
os passos e gestos de Teresinha naqueles eternos minutos de culto e devoção.
Não podia dar outra coisa. Acabaram se enamorando. Paixão instantânea e
recíproca...
Teresinha, católica
fervorosa, vivia sempre na igreja. Não perdia missa, novena ou quermesse.
Ajudava no que podia. Por toda esta sua dedicação, Cornélio começou a achar que
ela era uma santa. Apesar do imenso desejo que o consumia, se segurava.
Aguentava firme. Tratava a santinha com o maior respeito. Sem beijos na boca
nem carícias nos seios. Ela era um verdadeiro vulcão. Cheia de amor para dar.
Consumia-se em desejos inconfessáveis...
O moço fazia questão
de não avançar o sinal. Bom caráter, enquanto segurava as pontas, vivia repetindo:
“Não Teresa! Espero o casamento! Eu aguento!”...
Para o pai,
confidenciava: “Sou um cara de sorte seu Oscar! Minha namorada é uma santa!”. A
realidade é que estavam mesmo perdidamente apaixonados. E, por isso mesmo,
casaram...
Parecia que viviam felizes...
(Continua)