13/06/2023

SÓ UMA BALA NA AGULHA...

 

CAPÍTULO I

O amor é uma bala perdida. Viaja sem rumo e sem destino. Explode no coração do primeiro incauto que cruza seu caminho. Não escolhe idade, nem sexo. Não tem piedade de ninguém...

No caso de Cornélio, o amor chegou bem cedo. Decidido a criar raízes. Pegou o rapaz, na plenitude de seus 15 anos...

Com uma saúde de Biotônico Fontoura, de repente, sem qualquer motivo aparente, o mancebo começou a deixar seus pais preocupados. Abandonou os livros. Deixou de ouvir rádio. Não ficou nem um pouquinho curioso para ver as primeiras imagens geradas pela TV Morena. Parou de bater bola com seus amigos. Vivia suspirando pelos cantos. Seu pai, Oscar, cochichou para sua mãe: “Maria, aí tem dedo de mulher!”. Ledo engano...

O responsável por aqueles suspiros não era ainda uma mulher. Era só uma menina. Na verdade, quase um anjo. Só 13 anos. Criança que, de noite, ainda passava da sua cama para a de seus pais. Que dormia abraçada com um bichinho de pelúcia e passava as tardes conversando com sua boneca Emília...

Teresinha!

Que menina! Estudante do Colégio das Irmãs. Carinha de ingênua. Fingia não saber de todo o potencial que seu corpo começava a revelar...

Displicente - propositadamente ou não - parecia não notar o generoso botão (sempre desabotoado) de sua blusa que, dependendo da perspectiva, premiava o observador com uma visão maliciosamente pecadora. A saia colegial, nunca era capaz de cobrir todos os encantos que Deus generosamente lhe confiara. Os meninos, pelas ruas do Amambai, viviam batendo cabeça e tropeçando, tentando enxergar algo mais ao longo daquele delicioso, juvenil e ouriçado par de coxas...

Teresinha, a bala perdida que feriu o coração de Cornélio...

Aluno do General Malan, morador dos arredores da igreja do Perpétuo Socorro, aos domingos era o primeiro a chegar para a missa das sete. Não para orar. Para adorar. Ficava encarando fixamente, sem dar um suspiro, sem mexer um músculo, vigiando todos os passos e gestos de Teresinha naqueles eternos minutos de culto e devoção. Não podia dar outra coisa. Acabaram se enamorando. Paixão instantânea e recíproca...

Teresinha, católica fervorosa, vivia sempre na igreja. Não perdia missa, novena ou quermesse. Ajudava no que podia. Por toda esta sua dedicação, Cornélio começou a achar que ela era uma santa. Apesar do imenso desejo que o consumia, se segurava. Aguentava firme. Tratava a santinha com o maior respeito. Sem beijos na boca nem carícias nos seios. Ela era um verdadeiro vulcão. Cheia de amor para dar. Consumia-se em desejos inconfessáveis...

O moço fazia questão de não avançar o sinal. Bom caráter, enquanto segurava as pontas, vivia repetindo: “Não Teresa! Espero o casamento! Eu aguento!”...

Para o pai, confidenciava: “Sou um cara de sorte seu Oscar! Minha namorada é uma santa!”. A realidade é que estavam mesmo perdidamente apaixonados. E, por isso mesmo, casaram...

Parecia que viviam felizes...

(Continua)