CAPÍTULO II
A conversa foi ouvida
pelo velho Oscar...
Ávido por um neto, o
coroa pareceu indignado. Jurou que seu filho não era gay. Era macho, como ele.
Até pegou no pé do rapaz. Cobrou. Afinal, qual era o problema? Teresinha era
uma potranca. Transpirava sensualidade. Cheia de vontades. Doida para subir
pelas paredes. Cornélio desconversou. Que conversa era aquela? Sua mulher não
era puta. Tinha que ser respeitada. Na hora certa, aconteceria. Seu pai não
precisava ficar pressionando. Enfim, seu Oscar, zangado, advertiu: “Vou ter uma
conversinha com sua mulher! Ela vai ter que me explicar direitinho esta
falseta!”. Ninguém da família, no entanto, ficou sabendo se algum dia ele
chegou a cumprir esta promessa...
O tempo passou rápido
e todo mundo já havia esquecido aquela história. Em uma bela terça feira
Cornélio recebe um envelope. Um moleque, que nunca vira antes, chegou montado
em uma bicicleta e lhe disse: “É para o senhor!”...
Um bilhete. Anônimo.
Curto e grosso: “Sua mulher está lhe traindo!”...
Na manhã seguinte,
recebe outro. Nos dias seguintes mais outros. Revelavam os dias dos encontros
clandestinos. Davam detalhes. Nenhum nome. Pobre Cornélio. Sua vida virou um
inferno quase insuportável.
No princípio fez
absoluta questão de não acreditar naquelas malditas mentiras. Fingia ignorar as
palavras que ia lendo. Escritas, tinha certeza, por algum maldito invejoso.
Contudo, certa tarde, mais um bilhete lido, depois de ter observado atentamente
as atitudes de sua amada, chegou ao limite. Começou a pensar concretamente no
caso. Sua mulher não o procurava mais com o antigo fogo. Não reclamava. Dormia
cedo. Então, concluiu que era verdade. Estava sendo traído. Mas, por quem?...
Hipocritamente, para
ele, Teresinha continuava sendo uma santa. Sua santa. Respeitava-a...
A culpa toda era do
canalha que a estaria iludindo. Que aproveitava da sua ingenuidade. Da sua
inexperiência, pureza de caráter. Quem sabe não seria a mesma pessoa que estava
mandando aqueles bilhetinhos idiotas? E assim, sem mais nem menos, tomou uma
decisão inconsequente. Se fosse preciso, mataria o conquistador para defender a
honra e a reputação de sua amada mulher. O rapaz começou a arquitetar um
plano...
Comprou uma pistola.
Por precaução, por medo de que no dia que tivesse que usar a arma lhe ocorresse
a tentação de atirar (também) na sua amada, decidiu: “Vou pôr só uma bala na
agulha!”...
Não teria piedade.
Encostaria o cano da arma na cabeça do tarado e, fim da linha parceiro...
(Continua)