14/06/2023

SÓ UMA BALA NA AGULHA... (II)


 CAPÍTULO II

 A moça, sempre generosa. Nos seus decotes e sentares. O jovem, cada vez mais enamorado, vivia debulhando elogios para sua amada. O tempo passando. Sete meses de casamento. Nenhum sinal de barriga. Nenhuma gravidez. Nada. Uma noite, depois de ouvir a sogra reclamar que queria um neto, Teresinha desabafou: “A culpa não é minha, é de seu filho! Nunca chega aos finalmentes! Tá pensando que sou santa! Que sou feita de aço! Que não tenho vontades! Que não sinto desejos!”.

A conversa foi ouvida pelo velho Oscar...

Ávido por um neto, o coroa pareceu indignado. Jurou que seu filho não era gay. Era macho, como ele. Até pegou no pé do rapaz. Cobrou. Afinal, qual era o problema? Teresinha era uma potranca. Transpirava sensualidade. Cheia de vontades. Doida para subir pelas paredes. Cornélio desconversou. Que conversa era aquela? Sua mulher não era puta. Tinha que ser respeitada. Na hora certa, aconteceria. Seu pai não precisava ficar pressionando. Enfim, seu Oscar, zangado, advertiu: “Vou ter uma conversinha com sua mulher! Ela vai ter que me explicar direitinho esta falseta!”. Ninguém da família, no entanto, ficou sabendo se algum dia ele chegou a cumprir esta promessa...

O tempo passou rápido e todo mundo já havia esquecido aquela história. Em uma bela terça feira Cornélio recebe um envelope. Um moleque, que nunca vira antes, chegou montado em uma bicicleta e lhe disse: “É para o senhor!”...

Um bilhete. Anônimo. Curto e grosso: “Sua mulher está lhe traindo!”...

Na manhã seguinte, recebe outro. Nos dias seguintes mais outros. Revelavam os dias dos encontros clandestinos. Davam detalhes. Nenhum nome. Pobre Cornélio. Sua vida virou um inferno quase insuportável.

No princípio fez absoluta questão de não acreditar naquelas malditas mentiras. Fingia ignorar as palavras que ia lendo. Escritas, tinha certeza, por algum maldito invejoso. Contudo, certa tarde, mais um bilhete lido, depois de ter observado atentamente as atitudes de sua amada, chegou ao limite. Começou a pensar concretamente no caso. Sua mulher não o procurava mais com o antigo fogo. Não reclamava. Dormia cedo. Então, concluiu que era verdade. Estava sendo traído. Mas, por quem?...

Hipocritamente, para ele, Teresinha continuava sendo uma santa. Sua santa. Respeitava-a...

A culpa toda era do canalha que a estaria iludindo. Que aproveitava da sua ingenuidade. Da sua inexperiência, pureza de caráter. Quem sabe não seria a mesma pessoa que estava mandando aqueles bilhetinhos idiotas? E assim, sem mais nem menos, tomou uma decisão inconsequente. Se fosse preciso, mataria o conquistador para defender a honra e a reputação de sua amada mulher. O rapaz começou a arquitetar um plano...

Comprou uma pistola. Por precaução, por medo de que no dia que tivesse que usar a arma lhe ocorresse a tentação de atirar (também) na sua amada, decidiu: “Vou pôr só uma bala na agulha!”...

Não teria piedade. Encostaria o cano da arma na cabeça do tarado e, fim da linha parceiro...

(Continua)