11/02/2025

TACHINHA: O CRAQUE QUE JOGAVA DE TERNO...

                                                   

Nos tempos das andorinhas, início da década de 60, uma notícia agitou Campo Grande: aconteceria o primeiro pouso de um jato CARAVELLE no então aeroporto do Destacamento de Base Aérea de Campo Grande. A novidade conclamava o povo para a inauguração da extensão da rota aérea da Cruzeiro do Sul no Centro Oeste, por meio daquele moderníssimo jato, ligando a modesta Campo Grande com São Paulo e Rio de Janeiro...

A notícia atraiu gente de todos os recantos do velho Mato Grosso. A perspectiva de, pela primeira vez, poder chegar perto de um daqueles fenômenos da engenharia mexeu com a cabeça de todo o mundo. Os pousos dos aviões comerciais das poucas linhas aéreas que nossa população conhecia se resumiam a um ou dois, no máximo, por dia. Constellations, Convairs, Douglas, B-25, Cessnas, etc, eram os maiores aviões que conhecíamos por aqui. O fato de poder chegar perto de um jato de grande porte, monstruoso, com capacidade para uma centena de passageiros fez, por algumas horas, toda aquela multidão sonhar...

O que aconteceu naquela tarde foi surreal...

Muita gente faltou ao serviço. Muita gente matou aula. Muita gente fechou seu comércio no centro da cidade. Toda essa gente lotou o pátio de pouso da base aérea. Eu também estava lá. Eu e muitos amigos do Estadual e do Dom Bosco. Naquela época, no período da tarde, geralmente, os times de futebol da cidade, os da LEMC e os da várzea, costumavam realizar seus treinos nos quartéis do bairro Amambaí. A maioria dos jogadores deixou de treinar só para receber o Caravelle...

Foi incrível ver aquele belo monstro pousar. Taxiar pela pista. Aos poucos ir parando bem pertinho de onde nós estávamos. A multidão cercou o avião. Os padres salesianos do Colégio Dom Bosco tinham trazido índios da aldeia Meruri, do Xingú. Embasbacados, eles foram os primeiros a tocar na fuselagem daquele grande pássaro. Em poucos instantes a nave foi cercada pelo povo...

Os soldados da FAB providenciaram a escada para que os passageiros desembarcassem. Por um instante, todos os olhares convergiram para a portinhola por onde os felizardos viajantes desceriam. Um murmúrio de surpresa e admiração percorreu aquela turba quando a porta do Caravelle se abriu e o primeiro passageiro a desembarcar começou a descer pelos degraus daquela escada exibindo um orgulhoso sorriso: TACHINHA...

Algum dia alguém vai escrever uma biografia de Valmir da Costa Flores (**). Tachinha, sem nenhuma dúvida, foi nosso maior craque do futebol amador, e também do futebol de salão. Era admirado por sua habilidade técnica e pela elegância com que jogava. À época, acho que era atleta do Asas EC ou do Operário FC, - não tenho muita certeza disso. Voltava de um período de teste no CR Flamengo do Rio de Janeiro. Foi o primeiro felizardo a desembarcar de um Caravelle nesta Cidade Morena...

Um filme passa pela minha cabeça toda vez que me recordo daquele dia. Campo Grande começava a dar seus primeiros passos na direção de virar capital de um novo estado que ainda seria criado assim como Tachinha iria ficar marcado como o mais simpático e versátil craque do nosso futebol amador daqueles dourados dias...

Meninos... Eu? Vi !!! – Jair Buchara

(**) - In memoriam

 


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