Nos tempos das andorinhas, início da década de 60, uma notícia agitou Campo Grande: aconteceria o primeiro pouso de um jato CARAVELLE no então aeroporto do Destacamento de Base Aérea de Campo Grande. A novidade conclamava o povo para a inauguração da extensão da rota aérea da Cruzeiro do Sul no Centro Oeste, por meio daquele moderníssimo jato, ligando a modesta Campo Grande com São Paulo e Rio de Janeiro...
A notícia atraiu gente de todos os
recantos do velho Mato Grosso. A perspectiva de, pela primeira vez, poder
chegar perto de um daqueles fenômenos da engenharia mexeu com a cabeça de todo
o mundo. Os pousos dos aviões comerciais das poucas linhas aéreas que nossa
população conhecia se resumiam a um ou dois, no máximo, por dia. Constellations,
Convairs, Douglas, B-25, Cessnas, etc, eram os maiores aviões que conhecíamos
por aqui. O fato de poder chegar perto de um jato de grande porte, monstruoso,
com capacidade para uma centena de passageiros fez, por algumas horas, toda
aquela multidão sonhar...
O que aconteceu naquela tarde foi
surreal...
Muita gente faltou ao serviço. Muita
gente matou aula. Muita gente fechou seu comércio no centro da cidade. Toda
essa gente lotou o pátio de pouso da base aérea. Eu também estava lá. Eu e muitos
amigos do Estadual e do Dom Bosco. Naquela época, no período da tarde,
geralmente, os times de futebol da cidade, os da LEMC e os da várzea,
costumavam realizar seus treinos nos quartéis do bairro Amambaí. A maioria dos
jogadores deixou de treinar só para receber o Caravelle...
Foi incrível ver aquele belo monstro
pousar. Taxiar pela pista. Aos poucos ir parando bem pertinho de onde nós
estávamos. A multidão cercou o avião. Os padres salesianos do Colégio Dom Bosco
tinham trazido índios da aldeia Meruri, do Xingú. Embasbacados, eles foram os
primeiros a tocar na fuselagem daquele grande pássaro. Em poucos instantes a
nave foi cercada pelo povo...
Os soldados da FAB providenciaram a
escada para que os passageiros desembarcassem. Por um instante, todos os
olhares convergiram para a portinhola por onde os felizardos viajantes
desceriam. Um murmúrio de surpresa e admiração percorreu aquela turba quando a
porta do Caravelle se abriu e o primeiro passageiro a desembarcar começou a descer
pelos degraus daquela escada exibindo um orgulhoso sorriso: TACHINHA...
Algum dia alguém vai escrever uma
biografia de Valmir da Costa Flores (**). Tachinha, sem nenhuma dúvida, foi
nosso maior craque do futebol amador, e também do futebol de salão. Era admirado
por sua habilidade técnica e pela elegância com que jogava. À época, acho que
era atleta do Asas EC ou do Operário FC, - não tenho muita certeza disso.
Voltava de um período de teste no CR Flamengo do Rio de Janeiro. Foi o primeiro
felizardo a desembarcar de um Caravelle nesta Cidade Morena...
Um filme passa pela minha cabeça toda
vez que me recordo daquele dia. Campo Grande começava a dar seus primeiros
passos na direção de virar capital de um novo estado que ainda seria criado
assim como Tachinha iria ficar marcado como o mais simpático e versátil craque
do nosso futebol amador daqueles dourados dias...
Meninos...
Eu? Vi !!! – Jair Buchara
(**) -
In memoriam
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