07/02/2025

BELMAR FIDALGO: CADÊ A PLACA DO PELÉ?

                                                          

No dia 11 de maio de 1965, Campo Grande parou...

Parou para ver sua majestade, Pelé, o rei do futebol...

Em companhia de seu honorável séquito, ele, pela primeira vez visitava a capital econômica do velho Mato Grosso. Assim que amanheceu, a população invadiu desde a Base Aérea até o centro, as ruas por onde passaria a delegação do Santos FC. A praça Newton Cavalcante (nos quartéis) e a praça Cuiabá (na Cabeça-de-Boi), nunca antes haviam recebido tanta gente. Era impossível chegar até a frente do hotel onde aquela verdadeira seleção ficou hospedada. À noite, para orgulho da cidade, o modesto “Stadium Belmar Fidalgo”, singela caixa-de-fósforos se transformou num verdadeiro Wembley, o mais lendário estádio do mundo. Lotado. Pessoas se empurrando em busca de um lugar na tímida arquibancada de madeira. Não havia espaço nem para mais uma nervosa mosca. Gente trepada nas árvores, nos postes, nas torres, nos telhados, nas carrocerias dos caminhões. Tudo valia a pena para ver o rei-menino...

Foi uma noite de gala. Tudo deu certo...

Clima agradável, morno, céu cheio de estrelas, Lua cheia apreciando o espetáculo. Soprava uma suave brisa. Ninguém ousava respirar. Ninguém queria perder um só lance daqueles endiabrados mulatos...

De repente, não interessa quanto estava o jogo, um lance surreal, mágico, surpreendente. Modesto, desajeitado zagueiro que acabara de substituir o grande capitão Mauro Ramos de Oliveira, ao tentar destruir um ataque do Comercial - Jadir, Tachinha, Gileno, Delví, Pé-de-Pato, etc - cometeu uma pixotada. Para surpresa da torcida, tentando armar um contra ataque, deu uma grotesca bicuda, um desengonçado balão. A esfera de couro subiu. Subiu e continuou subindo. Por um instante misturou-se com a penumbra acima dos refletores. Confundiu-se com a magnífica Lua que engalanava aquela jornada...

O público não perdoou aquela inadmissível falha. Começou a vaiar estrepitosamente, a plenos pulmões, enquanto a bola, ofendida, se misturava à escuridão provocada pelo encontro desordenado de luzes. Acompanhada pelos apupos, ela subiu. No seu limite, parou. Daí começou a cair. Reta. Rápida. Pesada. Veloz. Como uma flecha. Bem na direção do meio do campo. O silêncio tomou conta do velho e acanhado estádio...

Foi então que apareceu um mago. Um deus. Um mágico. Um rei: Pelé...

Com rápidos e elegantes passos, ele se posicionou estrategicamente debaixo da trajetória da pequena e indefesa deusa que caía do céu. Enchendo seus pulmões de ar, estufou o peito. Esperou. A bola, suavemente, afundou naquela anatômica almofada. Do peito para a coxa. Da coxa para o chão. Do chão para o gol. Aylton Caldas, goleiro do Comercial, até hoje - exageros à parte - está tentando descobrir por onde aquela bola passou...

Delírio total. Vaias viraram aplausos. O singelo estádio quase veio abaixo. Naquela inesquecível noite, Pelé marcou três belíssimos golaços, catalogados com os números 710, 711 e 712...  

Vem desde esta maravilhosa noite, a indignação dos desportistas deste Estado do Pantanal, que amam o esporte, com a inércia, a falta de imaginação dos homens que manipulam seu futebol. De que números foram os gols marcados pelo Rei naquele jogo? Ninguém sabe dizer. Ninguém, até hoje, procurou saber...

No Dia de Finados de 2001, em Londres, na Inglaterra, Pelé marcou o último gol do gramado do Wembley Stadium. Cobrou, simbolicamente, uma penalidade máxima. Fez o último tento naquele santuário que, dias mais tarde, viria a ser demolido...

E, em Campo Grande? Infelizmente, na praça esportiva do rejuvenescido e moderno Belmar Fidalgo, ponto de encontro das famílias e dos turistas, nenhum mosaico, nenhum cartaz, nada, faz relembrar aos visitantes que, numa memorável noite de 11 de maio de 1965, Pelé, o Rei do Futebol, o maior atleta do século XX, o melhor jogador que o mundo já reverenciou, pisou em seu gramado e nele cravou três, gravados e catalogados, gols...

Passados os anos será que, hoje, os atuais frequentadores das suas pistas e quadras, sabem desta história? Será que algum jovem acredita que, em uma longínqua noite de maio de 65, o rei-menino, o deus da bola, visitou o Belmar e nele fez suas diabruras? Este feito do Rei – gols 710, 711 e 712 - sem nenhum marco que o relembre, infelizmente em breve se transformará em uma tênue lembrança...

Não mereceria uma homenagem? Cadê a placa?

Meninos... Eu vi !!!

****[Jair Buchara]****


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