Eu morava em São Paulo. Frequentava o Cursinho
Universitário de Engenharia quando na manhã nublada do dia 26 de junho de 1968, acabara de descer do ônibus que
fazia a linha Vila Iório - Freguesia do Ó, no Largo do Paissandu, me encaminhando
para entrar na rua Brigadeiro Tobias em direção do Teatro Municipal. Meus
passos foram bruscamente interrompidos pela ação de uma parafernália de
policiais civis e militares que começavam a bloquear todos os acessos que
levavam até o QG do II Exército pela frente do qual eu passaria na minha
caminhada. Era mais ou menos cinco e meia...
A região virou um inferno. Sons de sirenas,
ambulâncias, viaturas militares, etc, circulavam por aqueles caminhos do centro
de São Paulo. Pelo pouco que me deixaram olhar, pude ver o caos espalhado pela
rua Brigadeiro Tobias: vitrinas estilhaçadas, prédios arrebentados, um monte de
escombros ainda fumegantes e muitos soldados gesticulando desesperadamente.
Acabara de acontecer um atentado terrorista naquele quartel.
Logo
fiquei sabendo que no QG do
II Exército, naquela madrugada, sentinelas atentas, protegiam as
instalações militares. A maioria era de jovens soldados que, aos 18 anos,
cumpriam o serviço militar obrigatório. Todos do 4º Regimento de Infantaria.
Às 4h30, uma sentinela disparara 6 vezes
contra uma caminhonete Chevrolet, que tentara invadir o QG. Desgovernada, ela batera
contra um poste. Os guarda viram quando um homem saltou do carro em movimento e
fugiu correndo. O soldado MARIO KOSEL FILHO,
pensando que era um acidente de trânsito, saiu de sua guarita tentando
socorrer algum provável ferido. Ao se
aproximar, uma violenta explosão provocou destruição e morte num raio de 300
metros. Quando a fumaça e a poeira se dissiparam, foi encontrado o corpo de KOSEL totalmente dilacerado,
reduzido a pedaços. Um coronel e mais 5 soldados também ficaram feridos. Uma carga com 50
quilos de dinamite explodira espalhando destruição e morte num raio de 300 metros.
Neste atentado
TERRORISTA, participaram guerrilheiros da VPR: Waldir Sarapu, Wilson Fava,
Onofre Pinto, Diógenes Carvalho de Oliveira, José Araújo de Nóbrega, Oswaldo dos
Santos, Dulce Maia, Renata Guerra de Andrade, José de Lira e Silva, Pedro Lobo
de Oliveira e Eduardo Collen, integrante da REDE, outro grupo
guerrilheiro. RENATA FERRAZ, chamada pelos militares e pela imprensa de "A
TERRORISTA LOURA", participante da ação, confessaria, 30 anos depois, que
o atentado teve motivo quase infantil. Dias antes o grupo havia
assaltado um hospital militar para roubar armas. O comandante do II Exército,
general Manoel Carvalho de Lisboa, falou à mídia que o ato tinha sido covarde e
sem heroísmo. Desafiou os guerrilheiros a fazerem isso nos quartéis dele. O VPR
aceitou a provocação e lançou o carro-bomba contra QG do II Exército. RENATA
diz que os integrantes do grupo depois se penitenciaram e concluíram que o
"atentado não serviu para nada, a não ser matar o rapazinho".
Escrevi este
texto só para deixar claro que até hoje, em 2018, o povo não chegou a um
consenso comum para classificar os TERRORISTAS... metade acha que são heróis, merecem
medalhas... metade simplesmente conclue: “terrorista bom é terrorista morto”. A
História dirá quem tem razão...