01/11/2025

CINE RIALTO...

 

O Cine Rialto deixou saudades em Campo Grande. Situado na Rua Antônio Maria Coelho, com 800 lugares e arquitetura simples, logo conquistou a simpatia de pessoas que se deslocavam até ele à noite utilizando lanternas e lampião a gás...
Na década de 50 a energia elétrica ainda não chegava até aquela região. A fila, em frente à bilheteria, era sempre grande. Os ingressos, às vezes, acabavam. A rua escura, sem asfalto, tinha um modesto comércio de pequenos “barzinhos” e mercearias...
Para que o Cine Rialto funcionasse, foi preciso instalar um gerador próprio. Ele não tinha palco apropriado, mas tinha um mezanino. Fazia sessões reservadas às moças (com meia-entrada) e matinês para a criançada. Na metade da década de 1950, seu público começou a diminuir, mas em 1958 uma reforma o transformou em cinema de luxo, moderno. Sua tela panorâmica foi trocada, assim como as cadeiras, todas estofadas. Virou o ponto “chic” da cidade. O mais sofisticado. O mais bonito. Poltronas confortáveis. Luxuosas cortinas grenás. A moça que vendia balas, sempre elegante, bonita, sorridente. O “lanterninha”, sempre educado, bem humorado, gentil...
O saguão do Cine Rialto era ponto de encontro dos representantes das mais tradicionais e antigas famílias do então velho e querido Mato Grosso: Chaia, Cesco, Trad, Akamine, Bueno, Rondon, Kanashiro, Coelho, Garcia, Canale, Barbosa, Martins, Buchara, Gal, Espíndola, Pettengil, Oliveira, Lima, Alencar, Miranda, Uheara, Leitum, Arakaki, etc. Era, enfim, o cinema preferido pela sociedade, autoridades civis e militares. A casta fazia questão de desfilar em sua sala de espera. Nariz empinado. Gente fina...
Nas matinês, os jovens da Cidade Morena viviam horas de completa simbiose. Respiravam o mesmo ar. Dividiam a mesma emoção. Suspiravam por uma mesma impossível paixão. Eram os únicos abrigos em que os casais, protegidos pela penumbra dos projetores, podiam matar suas saudades. Namorar. Trocar uma carícia mais atrevida. Um abraço mais ousado. Mergulhar, sem medo, num apaixonado, eterno e oculto beijo. Muitos casamentos desta nossa Cidade Morena tiveram início no apagar das luzes deste cinema...
O Cine Rialto, definitivamente - assim como os cines Alhambra e Santa Helena - mudou o comportamento social da cidade. A partir de sua reforma, de início, s mulheres por exigência da casa, eram convidadas a usarem vestidos “à altura” (roupas finas que fugissem do trivial), e os homens só podiam entrar de paletó e gravata. Dentro da sala, o costume de ficar circulando até começar o filme para flertar com alguém também foi banido. O público tinha que entrar e, imediatamente, ocupar o seu assento...
Hoje, infelizmente, depois de um período de decadência foi esquecido, fechado e transformado em templo religioso da Seicho-No-Ie...
Meninos, eu ví !!!
jairbuchara@hotmail.com
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