Durante a pavimentação da rodovia que liga Campo Grande a Cuiabá, meu pai era um dos motoristas que dirigiam caminhões com pedras e cascalhos para as obras de asfaltamento da estrada. Quando o expediente estava prestes a acabar, ele afundava o pé no acelerador, doido para chegar no canteiro, descarregar as pedras e ir descansar. Seu potente Ford, com a caçamba carregada, cortava a poeirenta e sinuosa estrada subindo a sinuosa serra que levava até a capital de Mato Grosso. Certa tarde, meu pai, solitário e já cansado de ouvir a rádio “Voz do Oeste”, avistou um candango pedindo carona na beira da estrada. Decidiu parar o caminhão pensando ter arrumado um companheiro para conversar. Mandou o desconhecido subir na cabina. Seu “passageiro”, um mulato forte e simpático, era gago. Fanhoso. Engolia algumas letras. Preferia não conversar para não ser ridicularizado. Quando meu pai perguntava alguma coisa, ele respondia com acenos de cabeça ou com resmungos incompreensíveis. Meu pai já estava ficando nervoso com aquela situação. De repente, perto de Jaciara, uma mulher muito bonita também fez sinal para o caminhão parar. Meu pai bem não parou porque ficou co medo de levar uma multa dos fiscais da 30ª CER/MT. Claro que ele gostaria de mandar o mulato descer e deixar a loira subir, mas era contra o regulamento. Preferiu não parar. Chateado, perguntou para o fanho: “Viu que mulherão?”. O cara respondeu: “Fe-fe-feia!”. Meu pai (que ainda olhava a loira pelo retrovisor) rebateu: “Que é isso cara? Tá cego? Olha só que pedaço de mulher!”. O gago insistiu: “Fe-fe-feia!”. Meu pai, irritado com aquele bate-boca (já pensando que o gago era doido) mas ainda olhando pelo retrovisor, falou: “Cara, você não entende nada de mulher. A loira é BONITA sim!”. O gago berrou: “FE-FE-FEIA! FE-FE-FEIA!”. Meu pai olhou para frente. Tinha um caminhão de areia, enguiçado, parado no meio da pista. Já era tarde demais. Atolou o pé no freio. O Ford F-600 arregaçou a traseira do outro caminhão. Ainda bem que ninguém se machucou. Meu pai, bufando, desceu do caminhão e gritou para o fanhoso: “Desgraçado! FDP! Você estava olhando p’ra frente. Por que não me avisou do caminhão parado?”. O fanho respondeu com ironia: “Eu fa-fa-falei-pro-procê-fê-fê-fêiar! O-cê-ocê num fê-fê-feiô!”...

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